"... e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana" (Machado de Assis)Nasceu no Rio de Janeiro, morro do Livramento. Era pobre ,
epilético, negro (odiava ser chamado de mulato). Pior: era pobre numa sociedade capitalista,
epilético numa sociedade racional e negro numa sociedade
escravista. Filho de um pintor de paredes, verdadeiro agregado de uma família de posses da alta sociedade carioca do século XIX.
No entanto, nasceu com o
gênio impregnado na mente e plenamente consciente do seu papel de agregado e da brutalidade da dominação brasileira, dominação
escravista e
clientelista.
Apesar de tudo, completou sua ascensão social, chegou à classe dominante e agiu como um traidor de classe: envenenou com a pena da galhofa e a tinta da melancolia a classe dos proprietários. Contudo, teceu um lindo véu de seda da mais alta qualidade por cima do aranhol mortífero. Isso lhe rendeu agrados e homenagens, até sua morte, por parte daqueles nos quais o veneno fora inoculado.
Machado de Assis foi o primeiro a minar e denunciar a perversão dos que se auto denominam "a locomotiva da nação". Ele denunciou os donos do poder, do podre poder do Brasil. E Machado o fez perfeitamente, sem o auxílio de uma análise de um Caio Prado, de um Celso Furtado ou de um Sérgio Buarque.
Leiamos Machado de Assis, para que nos conheçamos de fato.
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