"... e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana" (Machado de Assis)
Nasceu no Rio de Janeiro, morro do Livramento. Era pobre , epilético, negro (odiava ser chamado de mulato). Pior: era pobre numa sociedade capitalista, epilético numa sociedade racional e negro numa sociedade escravista. Filho de um pintor de paredes, verdadeiro agregado de uma família de posses da alta sociedade carioca do século XIX.
No entanto, nasceu com o gênio impregnado na mente e plenamente consciente do seu papel de agregado e da brutalidade da dominação brasileira, dominação escravista e clientelista.
Apesar de tudo, completou sua ascensão social, chegou à classe dominante e agiu como um traidor de classe: envenenou com a pena da galhofa e a tinta da melancolia a classe dos proprietários. Contudo, teceu um lindo véu de seda da mais alta qualidade por cima do aranhol mortífero. Isso lhe rendeu agrados e homenagens, até sua morte, por parte daqueles nos quais o veneno fora inoculado.
Machado de Assis foi o primeiro a minar e denunciar a perversão dos que se auto denominam "a locomotiva da nação". Ele denunciou os donos do poder, do podre poder do Brasil. E Machado o fez perfeitamente, sem o auxílio de uma análise de um Caio Prado, de um Celso Furtado ou de um Sérgio Buarque.
Leiamos Machado de Assis, para que nos conheçamos de fato.
le
sábado, outubro 06, 2007
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2 comentários:
Lendo Machado de Assis, talvez a gente pare de segregar o país em rico e pobre, negro e branco, elite e não elite, etc. Talvez, também a gente comece a tomar mais atitude para melhorar as coisas ao invés de apenas apontar o dedo para o que está errado.
Ótimo texto, Leandro, parabéns (como sempre)
beijos
Guedelhudo,
o Pasta iria adorar ler isso!
Beijo.
Ro
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