domingo, dezembro 17, 2006

Vícios


Vícios...não tenho, só
a vontade de olhar pelas
frestas, de ver através das
paredes de vidro, dos
olhos mágicos, das
janelas enegrecidas, dos
vestidos translúcidos, das
águas vivas. Andar pelas
ruas incógnito entre o
desfile das pernas
despudoradas, das mãos
pendulares, dos olhares
esquivos, das sobrancelhas
sinuosas e das bocas
sedentas.



ri

sexta-feira, dezembro 15, 2006

A certeza do espanto

Entrou em casa com a certeza do espanto, mas com a esperança (tola) da compreensão.

O pai, que nunca lhe falava nada, não por confiar ou por não saber como, mas simplesmente por não se importar, finalmente alterou o seu olhar.

_ O que é isso moleque, endoidou?

Disse com a voz presa, desacostumada aos tons alterados.

A mãe, que sempre fora sua amiga, sempre o protegera, mas que nunca conseguira (tentara) entende-lo, tentou mais uma vez.

_ Que é isso filho, é para alguma festa à fantasia?

Primeiro cabisbaixo, mas depois levantando levemente a testa, com a franja nos olhos, respondeu com um pouco mais de um sussurro:

_ Não mãe. É assim que eu vou usar o meu cabelo agora.

O pai, transtornado, finalmente desengripou a garganta:

_ O que? Rosa?! Vai agora ficar andando por aí com o cabelo cor-de-rosa! Tá ficando louco moleque?! O que que é? Virou um desses panques agora? Ou tá virando viado?! Já faz um tempo que eu tava achando você esquisito! Essas roupas, esse seu jeitinho! É isso que você quer, virar uma bicha?!

_ Minha Nossa, coitado do menino!

_ Eu não sou viado coisa nenhuma! E muito menos punk!

Disse num tom crescente e seguiu:

_ Não tem nada de mais, um monte de gente usa, meus amigos também, é super normal!

_ É só uma moda, não é meu filho? Logo passa.

Profetizou a mãe.

_ Passa é o cacete! Trata de tirar essa merda da sua cabeça agora mesmo! Tá me ouvindo? Tira esta desgraça da sua cabeça ou eu mesmo raspo esse cabelo de panque viado na gilete! Na gilete, tá me entendendo?!

_ Não.

_ O que?! Não me provoca moleque! Você vai tirar essa porcaria do cabelo, eu não sei como, mas vai tirar o quanto antes senão eu mesmo arranco essa merda no tapa! Olha, eu só não te dei uma surra até hoje porque tua mãe sempre te protegeu, sempre conseguia me enrolar, mas agora experimenta! Experimenta me desafiar pra ver o que te acontece!

Estava vermelho, os olhos esbugalhados e a saliva lhe escorria em baba. Espumava.

Nunca havia visto seu pai assim. Teve medo. Olhou para a mãe buscando qualquer sinal, mas a mulher calava atônita, havia paralisado diante da reação inédita de seu marido. Não o reconhecia. Sem a guarida de sua mãe sabia que estava perdido. Pensou em concordar com seu pai e acabar com tudo aquilo. Só pensou...

_ E.M.O.

_ Hã? O que é que você disse?

Soletrou e repetiu enfático.

_ E.M.O. É o que eu sou! Não sou punk e não estou virando bicha, é só um estilo diferente que a gente tem e essa “merda” no meu cabelo é só uma tinta rosa e faz parte desse estilo!

Encarou o pai que continuava a espumar, mas percebeu que seus olhos haviam parado num instante reflexivo. Sentiu que havia conquistado terreno. Pensou que da mesma forma que havia se assustado com a reação de seu pai, ele também poderia estar estranhando a investida inesperada do filho. Sentiu-se forte e continuou:

_ E quer saber, você que nunca se importou comigo, nunca me disse o que fazer ou o que não fazer, que sempre fingiu que eu não existia, não é agora que vai querer mandar na minha vida! Você não tem esse direito porque nunca foi meu pai de verdade! E a “merda” não tá na minha cabeça, tá na sua!

Respirou e concluiu:

Pai de MERDA!

Continua....

ri

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Engano

Pensei que fosse eterno.
E é sua a caneta com que escrevo minha despedida.
Pensei,
por um momento,
que fosse eterno.

Amor feliz
vibrante
meloso
choroso
depressivo.

Onde está a eternidade?
Ternura
Éter
Efemeridade

Onde estão as estrelas, nascidas nas supernovas?
Onde está Deus, morto por Nietzsche?

Eu estava mesmo enganado.

le

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Evidências

Parece que a nova moda é desmentir as evidências.

Em maio e em junho deste ano, uma orda de criminosos toma conta das ruas da cidade de São Paulo e das principais cidades do estado mais poderoso do país. O comércio fecha, as pessoas deixam seus trabalhos e se trancafiam em casa com medo de bandidos e de policiais. Delegacias e carros de polícia são atacados. A polícia mata mais de trezentas pessoas. Agentes de segurança, bandidos e, o pior, cidadãos são mortos.

O governador do estado de São Paulo, Cláudio Lembo, insiste em afirmar que a segurança está sob controle.

Escândalos de corrupção que envolvem membros históricos do Partido dos Trabalhadores e amigos pessoais do presidente da República irrompem. A Polícia Federal, em seu trabalho, a princípio, ilustre, prende e desmantela quadrilhas de Brasília tão indecentes quanto aquelas que atuam em São Paulo.

O presidente da República Federativa do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, insiste em negar que não sabia de nada.

Um dos maiores congestionamentos do ano. Alagamentos espalhados por toda a cidade de São Paulo. Piscinões e bueiros amontoados de lixo, numa das cidades com o mais alto custo de vida do mundo. Um imposto (IPTU) que sofre sucessivos aumentos a cada ano. Deslizamentos, feridos, transtorno, atrasos e prejuízos.

O prefeito da cidade de São Paulo, Gilberto Kassab, insiste em afirmar que a cidade está preparada para fortes chuvas.

Parece que a nova moda é desmentir as evidências.

le

quinta-feira, novembro 16, 2006

Carência das coisas

O caminho foi dado. Carlos ensinou a procurar a beleza na monotonia. Não é anti-futurismo, é futurismo amadurecido. A realidade se modificava e o belo se tornava obsoleto. A efemeridade se condensava e a poesia se diluía. O momento fatídico era próximo. Mesmo no asfalto da capital de meu país, a flor surgia. A poesia não era tão bela, mas era poesia.

A carência de todas as coisas me fez agora pensar que Drummond nunca foi tão moderno.

O mundo pede beleza
a natureza, socorro,
os carros pedem cautela,
os escritórios, mais flores,
a vida pede poesia,
os livros pedem leitores,
o tempo pede mais tempo,
o café mais açúcar
como o sexo mais amores.

le

sábado, novembro 11, 2006

Aposto

Significados vários iluminados por palavras que naturalmente se esparramam para depois se convergerem num único ponto, como feixes de luz que se unem irmanamente pela intervenção de uma lupa poética para queimar uma folha, uma folha cujas letras imprimem a metafísica do ser: a poesia.

Viver é estar preso entre vírgulas para explicar-se ao mundo.

le

terça-feira, novembro 07, 2006

Boi do Morro do Querosene

“O meu boi já morreu

Ficou triste meu terreiro

Mas no ano que vem

Eu canto boi o ano inteiro”

(Toada que encerrou a terceira parte da festa do boi-bumbá no Morro do Querosene)


A festa do boi-bumbá ocorre três vezes ao ano no Morro do Querosne, na zona Oeste de São Paulo. Festaja-se o renascimento, a vida e a morte do boi. A celebração é resultado da dedicação dos imigrantes maranhenses, que aqui se estabeleceram, para manter suas tradições e manisfetações culturais. Estive lá pela primeira vez no Domingo passado e saí com a certeza de retornar em breve, no renascimento do boi.









(Bumba-meu-boi no Maranhão - João Augusto - jares.fotoblog.uol.com.br)


O texto que segue é uma homenagem e uma tentativa de expressar em palavras as impressões que meus sentidos colheram durante esta incrível celebração.

O boi do Maranhão, o boi do Norte, o boi cíclico

O boi que nasce para dar a vida

Aos tambores, aos pandeiros, às toadas, ao maracatu

O boi que nasce para criar os movimentos

A dança, a roda, o bailado dos corpos fantasiados

Dos cablocos, das índias, das entidades em transe

O boi que vive na harmonia da disputa

Entre a força e a inteligência

Entre o homem e o animal

O boi que morre no sacrifício, na estocada

Na sangria do ritual respeitoso

O boi que morre para reviver

Os cantos e as danças da natureza

Porque na natureza tudo que se desfaz

Dá início a um novo começo

O boi da esperança!

ri

segunda-feira, outubro 30, 2006

Para quem já foi mãe muitas vezes

Aquele perfume, inconfundível, só de quem já foi mãe muitas vezes! como conforta sentir o seu cheiro, que segurança, que carinho, é melhor que estar em casa, é estar em casa duas vezes, sou de casa mas sou visita, que mimos deliciosos, que olhar mais terno, que vontade de correr e me esconder, só pra ouvir doce sua voz me chamar, e vai ter lanche, biscoito, bolo e sobremesa, leite, café, suco e refrigerante, que vontade de correr e me esconder atrás de suas pernas, o lugar mais protegido do mundo, do universo, que vontade de ouvir suas histórias, como transforma a minha natural impaciência, só quem já foi mãe muitas vezes! como passam as horas, que besteira crescer, que besteira mudar, mas ela, nem um segundo, nem um gesto, a mesma, e só agora percebi, que vontade de correr, me agarrar e pedir desculpas, por envelhecer e não mais correr pro abrigo atrás de suas pernas, que tolice dispensar seus cuidados, que tolice não te cuidar, mas num sorriso conhecido estou em casa novamente, e vai ter lanche, rosca, bolinho de chuva, chá, suco e refrigerante, só para quem já foi mãe muitas vezes!

ri

quinta-feira, outubro 26, 2006

Triste

Páscoa, Natal, Dia das mães, nunca falha a reunião de família, as risadas e a minha admiração por ela. E vem mais uma vez com suas histórias, deliciosamente contadas assim que os pratos são retirados da mesa.

Ela, mais do que todas as outras que estão em seu mesmo papel, sempre se preocupa comigo, apesar de eu, ultimamente, ter aparecido em sua casa em raras ocasiões. Isso faz-me lembrar um episódio.

Certa vez, após ter feito uma prova de vestibular, fui a sua casa caminhando. Quando sentei em seu sofá, comecei a não me sentir muito bem. Via a preocupação estampada em seus olhos. Era apenas uma indisposição, mas vários chás e maneiras de me sentir melhor lhe vieram à mente. Mesmo depois de lhe jurar que me sentia melhor, assolava-lhe a persistente preocupação.

Hoje é minha vez.

É lamentável que meu primeiro texto nesta parceria, tão alegre e saudável, traga esse tipo de conteúdo, mas, felizmente, o blog veio em hora certa, para eu ter com quem compartilhar essa triste notícia.

Nonna, tudo vai dar certo. É só mais um obstáculo. Te amo.

le

quarta-feira, outubro 25, 2006

Terça-feira, 24 de outubro, o sol aparece entre nuvens.




Tudo começou com a leitura de um horóscopo. Estávamos os três procurando afazeres para preencher um espaço curto de tempo, que tínhamos antes de nossos compromissos, quando o jornal do dia, intacto num dos cantos de uma mesa retangular que atravessa uma sala do mesmo formato, preencheu os poucos minutos que tínhamos antes de seguirmos nosso rumo.

Dois de nós entraríamos em aula e o terceiro se deliciava com um novo teclado macio e de teclas curtas recém instalado, que o mantinha entretido com a literatura que em sua tela ia surgindo.

No caderno ILUSTRADA, da Folha de São Paulo, sem nada que nos chamasse atenção, sobraram os signos do zodíaco para nosso entretenimento. Leão, Capricórnio e Libra... nesse último a idéia surgiu.

"... Adquira um item comum, com sócio ou parceiro de vida, será fácil."

Vamos fazer uma sociedade?

De quê?

Um filme, um cd...?

Que tal um blog? disse o Libriano.

Aceito pelo trio, nos comprometemos a, pelo menos uma vez por semana, publicarmos temas úteis, fúteis e inúteis para serem debatidos.

Da idéia inicial, só faltam a colocação do blog no ar (feito pela manhã por aquele que mais entende dessa coisa toda) e o nome (que está provisório ou não), que é a parte mais difícil, tamanha sejam as loucuras que se passam em nossas mentes, mas a sociedade está formada e um vínculo maior entre nós acaba de solidificar ainda mais nossa amizade.

Vamos ao trabalho!!!!

ju

oi

oi