sábado, outubro 06, 2007

Genialidade sociológica

"... e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana" (Machado de Assis)

Nasceu no Rio de Janeiro, morro do Livramento. Era pobre , epilético, negro (odiava ser chamado de mulato). Pior: era pobre numa sociedade capitalista, epilético numa sociedade racional e negro numa sociedade escravista. Filho de um pintor de paredes, verdadeiro agregado de uma família de posses da alta sociedade carioca do século XIX.

No entanto, nasceu com o gênio impregnado na mente e plenamente consciente do seu papel de agregado e da brutalidade da dominação brasileira, dominação escravista e clientelista.

Apesar de tudo, completou sua ascensão social, chegou à classe dominante e agiu como um traidor de classe: envenenou com a pena da galhofa e a tinta da melancolia a classe dos proprietários. Contudo, teceu um lindo véu de seda da mais alta qualidade por cima do aranhol mortífero. Isso lhe rendeu agrados e homenagens, até sua morte, por parte daqueles nos quais o veneno fora inoculado.

Machado de Assis foi o primeiro a minar e denunciar a perversão dos que se auto denominam "a locomotiva da nação". Ele denunciou os donos do poder, do podre poder do Brasil. E Machado o fez perfeitamente, sem o auxílio de uma análise de um Caio Prado, de um Celso Furtado ou de um Sérgio Buarque.

Leiamos Machado de Assis, para que nos conheçamos de fato.

le

2 comentários:

Juliana Inglesi disse...

Lendo Machado de Assis, talvez a gente pare de segregar o país em rico e pobre, negro e branco, elite e não elite, etc. Talvez, também a gente comece a tomar mais atitude para melhorar as coisas ao invés de apenas apontar o dedo para o que está errado.


Ótimo texto, Leandro, parabéns (como sempre)
beijos

Anônimo disse...

Guedelhudo,
o Pasta iria adorar ler isso!

Beijo.

Ro